A famosa frase, conhecida, reconhecida e que ficará para o resto dos dias marcada para o todo e sempre, enquanto a humanidade tiver a capacidade de sobreviver, como é de domínio público, não é de vó Adelina e muito menos minha. Ela foi proferida por Nelson Rodrigues, em seu eterno estado de alta lucidez sobre os aspectos da vida e propalada por todo aquele que em sua defesa, a usa como escudo. Eu mesmo a uso a granel. Mas, ao contrário de minha profecia em relação a Frankel, ela é altamente válida.
Pois bem, como tudo na vida existe o outro lado da moeda. Sempre tive verdadeiro pavor das multidões. A turba é capaz de erigir as maiores atrocidades, as maiores burrices que um ser humano possa engendrar. E o pior, qualquer irreverência que a turba assuma, ela parte de um. Um faz, outros seguem, e a turba se tornará ainda maior, por que existem aqueles que aderem, ao simples notar que muitos estão fazendo. É assim, por exemplo, que a moda é imposta. Um senhor qualquer determina que a cor é o abóbora e a altura da saia tem que ser abaixo dos joelhos e assim por ausência de massa cefálica, ou obtusidade córnea, um grupo imenso de mulheres, nos quatro cantos do universo, assumem que qualquer coisa que defira disto, está cafona. Fora de moda! Off-broadway! Seguem a moda como os vira-latas, as paradas militares, sem se importar que aquela moda sirva ou não as suas características físicas. Este é o destino da turba: o buraco negro.
E o pior: certamente muitos dos que compõem a turba, em suas perplexidades sacro santas, simplesmente seguem, gritam e vaiam. Escorregam sorridentes na maionaise. E se perguntados qual a razãode estarem na turba, dirão uníssonos em sua burrice coletiva, com a maior desfaçatez: se todos estão fazendo, por que não haveria eu de fazer?
A exceção do suicida confesso, a grande maioria é seguida pelos ignaros.
Outrossim, com todo este barbarismo eu piamente acredito ser ainda melhor que o personagem solitário. O ermitão. O impoluto dono da única verdade, que por estas coincidências do universo, é a sua. Somente a sua. Nada mais que a sua. Aquele que pensa sozinho, age sozinho e só ele tem o seu próprio prisma. O homem da bolha.
Não creio que o excesso de gente possa ser aplicado a apenas mais de uma pessoa. E que turba tenha um número mínimo específico. Por sua vez, creio ainda que todo trabalho tem que ser levado em equipe. Toda a idéia tem que necessariamente ser testado por outros. Quanto ao tamanho desta equipe, teria que variar em relação a necessidade do projeto em questão. Quanto maior, mais complexa. Da mesma forma que uma idéia e um projeto só conseguem sair de um mente ou de uma folha de papel, se houver um minimo de aceitação, de uns três ou quatro.
Na criação de cavalos de corrida o perigo maior é a turba. Uns iniciam um processo. Imediatamente são seguidos por vários. E num piscar de olhos, como tomados por uma compulsão satânica, uma verdadeira turba se forma e a moda passa a ser engolida e a seguir imposta. Pega mal não estar naquele barquinho... E quando um é perguntado, sob a validade de sua atitude, a resposta é simples. Sei lá, mas se todos estão fazendo...
As vezes me pergunto por que sou obrigado a escrever estas coisas, ao invés de ir direto ao assunto. E cheguei a seguinte conclusão. Você tem que primeiro acreditar na validade do ponto que irá defender, para depois defende-lo. E com sorte prova-lo e convencer a aquele que o lê. Lembre-se, todo o leitor é um huno em potencial. Ele quer sempre pegar aquele que escreve no erro, na contradição, na provável mentira. E quando o faz tem a mesma sensação de Átila, após ter estuprado o bispo, o degolado e posto fogo em sua igreja. Só assim urra com plena satisfação. Isto é uma característica humana. Apenas os bovinos concordam sem se preocupar com nada, a não ser o pasto que está sob os seus pés.
E como a maioria dos pontos que defendo, o tem origem em um pensamento, solitário, normalmente embaixo do chuveiro, a melhor forma de testa-lo é expô-lo e esperar pela reação. Que como aqueles que seguem o que defendo, já devem saber qual é na maioria das vezes.
Muitos cruzamentos que são feitos no Brasil, não tem uma explicação lógica. O criador parte do principio que a principal característica da genética é o fator sorte e parte para o processo aleatório de pegar uma égua e a cada ano a cobrir com um determinado cavalo. Quando o número de reprodutoras em seu Haras é grande, ele faz a coisa em grupos. Estas dez vão para o fulano, estas dez para o cicrano e estas para o beltrano. E como ele faz, seu vizinho copia e a turba se forma dentro de uma forma simplística de se encarar uma questão deveras complexa.
Não selecionei e adquiri Gloria de Campeão por ser ele um filho de quem quer que seja. Ele foi adquirido, pelo físico que tinha, pelas possibilidades aptitudinais que me demonstrava e mais do que isto por uma duplicação que possuía em seu pedigree em uma égua, por quem nutro o maior respeito. E querendo ou não foi ele, o único cavalo brasileiro a nos dar uma Dubai Cup. E aqui entre nós, não foi de longe, o mais caro... desculpem, mas pequenos detalhes ainda fazem uma grande diferença no turfe brasileiro.
Mas ai entra aquela questão, mais simples ainda de se entender. Se todos fazem, o erro passa a ser geral, nivela-se a um patamar comum, e como sempre, em toda e qualquer corrida, alguém tem que ganhar. E ganha aquele que está em seu dia de sorte. Eu penso de forma distinta, mesmo sabedor que é mais fácil se espinafrar aquele que difere e mais ainda, simplesmente seguir a turba. Eu creio no detalhe. Naquilo que pode fazer aquele elemento ser o superior.
Compreendo, que qualquer agente, que dependa de um mercado, estará em melhor situação se seguir a turba, do que propriamente enfrenta-la e desafia-la com suas idéias. Pois, outra característica da raça humana é partir da premissa dela estar sempre certa e o outro invariavelmente errado. Mas, o que me espanta, é que em contrapartida, ninguém é capaz de duvidar do diagnóstico de seu médico de coração, ou de seu advogado de confiança. Ai, o fator sorte ou o aleatório, é imediatamente colocado de lado, pois é a sua integridade que está passa estar em jogo. Por que então não extrapolar isto para a sua criação de cavalos?
Imaginem que se a genética fosse uma questão de sorte e pudesse ser levada de forma aleatória. Diria que do cruzamento do japonês, com o japonês, poderia sair um negro de olhos verdes. E do cruzamento de um índio, com um crioulo, quem sabe um escandinavo louro de olhos azuis. E o que dizer de dois anões, formar-se um gigante? E de um sapo e um tartaruga, nascer um cavalo? Afinal como a turba pensa e age, tudo é possível, no momento em que a genética é uma questão de sorte e o fator aleatório existe. Não é mesmo?
Evidente que mesmo na genética existem os fatores sorte e o aleatório, porém, em percentuais nada significativos, se houver por parte daquele que pratica lúcidos métodos de indução. Mas não vou ficar aqui me esgoelando, para provar aquilo que de tão cristalino, a meu vem não precisa ser defendido, que dirá provado.
O que realmente interessa é que felizmente, homens como Tesio, Lord Derby, Boussac e outros, pensavam de maneira distinta. E o turfe se desenvolveu graças a eles. Da mesma forma que o príncipe Khaled Abdullah e Karim Aga Khan o fazem hoje.
Desculpem a verdade, mas não se cria um Frankel e uma Zarkava, do simplesmente aleatório ou pelo fator sorte. O mesmo se aplica a um Ribot, a um Nearco e a um Secretariat. A sorte do esporte, é que aqueles que criaram estes elementos, não são mais personagens solitários de uma ópera insólita. Possuem seus seguidores, que nunca se formarão em turbas, pois a unanimidade como é reconhecida, é burra. E isto é lógico de compreender.
Não é da lucidez que uma turba é formada e sim da desvairada loucura. Perguntem a Adolf Hitler, e ele poderá lhe explicar. Outrossim, vejo em centros de criação como a Europa, a Oceania e mesmo no Japão um senso lógico de seguir aquilo que está dando certo. E isto não é de maneira alguma moda. Isto é a pura e simples constatação que certos métodos, ou certas tomadas de posição, funcionam, pois, auxiliam o milagre genético. E este, como todo milagre, não se cristalizará sempre. Sempre existirão percentuais maiores ou menores de acerto.
A própria escolha de um garanhão é uma coisa que não pode ser vista como aleatória. Se alguém assim pensar que faça o teste da pista. De 10 éguas para o Galileo e no ano seguinte as mesmas 10 para o Giants Gentleman, criem de uma forma igual estes seus produtos, mandem todas para o Henry Cecil e veremos o que irá acontecer. Eu afirmo, que pode ser que o placar até não seja de 10 a zero a favor do filho de Sadlers Wells. Mas que haverá uma goleada, disto não tenho a menos dúvida. Agora se você se esmerar e dar aquilo que Galileo tem provado mais gostar, como uma descendente de Danzig, via Green Desert e Danehill, ou uma Mill Reef, via Shirley Heights e seu filho Darshaan, ou procurar os Rasmussen Factors em Lalun, juro que as suas possibilidades de êxito serão muito maiores. Diria que abissais! E esta é a forma que você deve encarar os fatos e possivelmente agir. Pois, eles são fatos, de há muito deixaram de ser apenas opiniões.
A raça thoroughbreds, que hoje comumente chamamos de cavalos de corridas se formou, graças a idéia de um punhado de soberanos britânicos, pouco mais de 50 éguas e três cavalos árabes. Difundiu-se, mas manteve-se por causa dos grandes garanhões, das matriarcas e da grande maioria de um possível lúcido e eficaz cruzamento entre eles. Ai quando uma matriarca prova ser capaz de produzir mais um elemento diferenciado em termos reprodutivos e você a duplica em seu cruzamento, formando aquilo que é reconhecido como um imbreeds em éguas superiores, ou Rasmussen Factor, há de se convir que suas probabilidades de acerto, tornam-se melhores. O mesmo em relação aos imbreeds em reprodutores. Imediatamente turba urge pela fogueira para aquele que assim o defende, como nos tempos da Inquisição,
Meus poucos e diletos amigos, este ôvo de Colombo, vem sido levado a efeito desde os primórdios do desenvolvimento desta raça. Não fui eu nem mesmo Tesio que o inventou. Agora tanto na Europa, como na Oceania e no Japão, ele se tornou mais constante, pelo simples fato, dos meios de comunicação tornaram-se mais eficazes. Os criadores e proprietários obtiveram maiores informações. Foi mais fácil captar a mensagem, que nos primórdios do desenvolvimento da raça, estavam cifradas nas quartas e quintas gerações e nos linebreeds da vida. Hoje os que luzem, assimilaram, colocaram em pratica, descobriram o que era joio e o que era trigo, e estão colhendo os frutos de suas iniciativas.
Evidentemente que os inteligentes a seguiram e sem que nenhuma turba fosse necessária se formar, estabilizou-se uma maneira de cruzamentos. Uma adesão aos conceitos, da lógica. É, o que conceituo como a eficácia da lucidez. Ou a clarividência da eficácia. Que concordo, que não é de maneira alguma, a única forma de ação. Que nunca formará turbas. Que dificilmente se tornará moda. Todavia, de longe está provando ser a mais eficaz. E sabem por que? Porque é a mais correta.
Mas como diria o velho mestre Atualpa Soares, para que alguém possa ganhar com certa constância, sempre haverá a necessidade de haverem muitos, sujeitos a serem derrotados com extrema constância. Pensem bastante nisto nestas vendas de Novembro, pois, é do acerto de vários, - e não apenas dois ou três - que dependerá a estabilização técnica e comercial, de um centro de criação de cavalos de corrida.