A pequena Plucky Liege
Vó Adelina sempre foi vista por muitos, como uma cética. E na verdade até o poderia ser. Mas para mim, não passava de uma pessoa extremamente realista. Diria até, que no mais alto padrão que este termo possa inspirar. Um dia ela me disse, a fé sempre comove, mesmo que o santo não mereça. E complementava, todos devemos ter um pingo de fé, mas não muito, pois na verdade, o excesso de fé, cega! E dizia, acentuando o ponto de exclamação.
Sei que já não se fazem mais avós como antigamente e muito menos frases que mereçam pontos de exclamação. O mundo mudou. Vive mais para o futuro, do que tirando lições do passado. Aliás, penso que nada mais antigo, para os jovens, do que um passado recente. Mas, no turfe, o pedigree, nada mais é do que um passado. O simples handicap de uma campanha, de um cavalo que passa a sua frente para correr, é também passado. Sim no turfe tudo é passado. É dele que se monta o presente e se arquiteta o futuro. Sei que as vezes me vejo a falar de coisas tão antigas que a biga do Ben-Hur. Mas se assim o faço, é que sinto correlação das mesmas com o que acontece hoje, pois, mais velho que as barbas de Abraão, são os exemplos que se repetem. Mudam-se os nomes, se mantém as teorias.
Em Gulfstream me encontrei com dois grandes estudiosos de pedigrees e a espera do Flórida derby, traçamos alguns paralelos e todos, ao mesmo tempo, chegamos a mesma conclusão, quão importante era por exemplo, a existência em um pedigree masculino de um excesso de Plucky Liege. Esta matriarca, não é tão antiga quanto a biga de Ben-Hur, mas é do tempo do Ford Bigode.
Ela foi sem dúvida alguma, uma das mais importantes reprodutoras do século XX. Certamente uma das três mais importantes da primeira metade do mesmo. Ganhou 4 corridas e tinha para mim, como ponto de mais interesse em seu pedigree, uma instigante concentração em Pocahontas, na razão 6x6x6x7x5 e na égua Banter, em 17 segmentos, advindos de quatro distintos mensageiros, sendo três dos quais machos.
Pocahontas produziu a três baluartes da criação do século XIX, a se conhecer, Stockwell, Rataplan e King Tom. E Plucky Liege, a outros quatro, Admiral Drake, Bois Roussel, Bull Dog e Sir Gallahad III. Imaginem, que o simples fato de qualquer égua produzir a quatro elementos diferenciados em pista, já a faz um fenômeno. O que dizer de uma, que além disse, fez de seus quatro filhos, leading sires.
Não sei uma nomeclatura que possa expressar, algo acima de fenômeno. Talvez transcendental, ou coisa parecida. Assim sendo, eu desde que iniciei meus estudos sobre pedigree, impressionei-me vivamente com Plucky Liege. Li tudo sobre ela e sua descendência, sabendo que um dia, todo este "passado" me ajudaria em decisões no presente. E é assim, com lúcida ferocidade que sempre defendo a importância de Plucky Liege, mesmo dentro dos pedigrees modernos.
Pois bem, coincidiu, que na mesma época em que trocava ideias com os estudiosos em Gulfstream, acabara de terminar um estudo sobre os reprodutores da era das provas de grupo no Brasil, e havia notado a importância vital de Plucky Liege, em muitos dos pedigrees, da vasta lista.
Foram tão somente 47 os reprodutores até o presente momento que conseguiram gerar mais de 10 individuais ganhadores de grupo em nosso território, do período de 1974 até o final do mês de Março do ano de 2013. E certamente em seis deles, a importância de Plucky Liége não pode passar a desapercebido.
Analisem os pedigrees de Tumble Lark, Present The Colors e Royal Academy. Todos possuem duplicações neste grande ícone.
Agora se deem ao trabalho de igualmente observar os pedigrees de Ghadeer, Earldom e Exile King, para notar a forte presença desta filha de Spearmint, em suas mães:
Seria isto apenas um produto de uma grande coincidência? Diria que não. É o passado mostrando a quem o sabe entender, que os pedigrees são como mapas, onde as direções do tesouro estão imprimidas, bastando a você, reconhece-las e segui-las.
Amanhã publicaremos a lista completa destes 48 elementos e para nossos correntistas e patrocinadores a ela serão somadas outros dados que considero de suma importância para o pleno entendimento da importância da mesma.
Ninguém deve tomar estas observações como dogmas. Concordo que o excesso de fé realmente o pode cegar. Mas creio que apenas ignorá-las, como um ateu convicto, em muito retardará a conclusão de seus sonhos na seára das corridas de cavalo e mais ainda na criação dos mesmos.