NÃO DEU PARA ESPERAR
ATÉ SEGUNDA FEIRA
O CASO ERA IMPORTANTE DEMAIS
PARA SIMPLESMENTE ESPERAR
Outro dia comentei aqui de meu encontro acidental com um de meus ídolos, o Paulo Francis, no hall do Rockfeller Center. Ontem, de volta a minha casa em Hallandale Beach, resolvi esvaziar algumas caixas e dei de cara com um dos artigos escritos por ele, do qual mantive uma cópia por décadas. Penso que ele representa a imagem que tinha sobre ele, e que sedimentou-se ainda mais em minha mente depois de conhece-lo pessoalmente. Assim ele escreveu:
Apesar de eu ser classe média, reconheço que coabitam em mim, uma vocação aristocrática e um temperamento radical (hoje sem causa específica, ou pelo menos diagramada). O que chamo de "vocação aristocrática" não é em absoluto o desejo de ter títulos, de restabelecer a monarquia (se bem que um dos príncipes herdeiros brasileiros que beliscava o bumbum das moças perto do banheiro do velho Jirau no Rio, me parece um candidato simpático)... Entendo por vocação aristocrática, no meu caso, limitação rigorosa de simpatia com o próximo... Procuro tratar todo mundo com respeito e cordialidade, mas não quero intimidades...
Em nosso único encontro eu nem poderia dizer que houve um tratamento da parte dele permeado em respeito e cordialidade, já que me senti ignorado e sem direito a apartes. Mas ser expectador daquela troca de opiniões entre meu amigo e o Francis, foi o ponto alto daquela viagem. Refrasiando, de todas as viagens.
Pois bem, o tempo passou, Paulo Francis morreu, mas nunca o meu respeito e admiração em relação a ele, diminuiu ou desapareceu. Era uma figura exótica, difícil de se gostar, e naturalmente cheia de vida e opiniões. Seu sarcasmo era ferino. Ele ia na ferida e girava o dedo, na mesma até sangrar. A ninguém perdoava.
Eu acho que sou uma pessoa cheia de vida e opiniões. Não tenho sequer vocação aristocrática, mas tenho que confessar que igualmente tenho minhas limitações - não tão rigorosas - de simpatia para com o próximo. E são nestas horas, que me lembro de vó Adelina, que uma vez me disse ao notar a decepção que eu tinha tido com uma pessoa que admirava: cada vez que conheço gente, mais valor dou a meu cachorro.
Outrossim, ninguém colocou um revolver em minha cabeça e me obrigou a escrever e defender minhas teses. Mas uma coisa garanto a vocês. Se algum dia, um de vocês fizer o que faço, por estas últimas quatro décadas, você se torna um para-raio de chatos. Chato é que nem erva daninha, nasce em qualquer lugar e cresce numa velocidade vertiginosa. Se você vacila, em segundos estará cercado pelos mesmos.
Todavia, igualmente tenho discofiometro e sei que na defesa de minhas posições, torno-me igualmente um chato. Mas um chato com certa lógica. Sábado em Sandown foi disputada uma das mais importantes carreiras do solo europeu nos 2,000 metros. trata-se do Eclipse Stakes. E eu, sempre que posso publico a qualidade de transmissão de caracteres de éguas que considero diferenciadas. E não é que Golden Horn descende de uma ? É uma daquelas de fechar o comércio, já que se trata de uma delas? Neta de Mumtaz Mahal, irmã materna de Nasrullah. Nada mal, vocês não acham?
Pois bem, a aqueles que acreditam nas linhas maternas meus parabéns. Estas na grande maioria das vezes trazem aquilo que nós ansiamos. E vocês sabem por que? Porque elas pertencem a uma corrente prospera na transmissão de classe.
Sun Princess foi sempre algo bastante diferenciada e não apenas pelo que comentei anteriormente. Ela não foi apenas um belo pedigree que passou a história por ser neta de, e irmão do. Ela fez por onde. Produziu a 13 produtos dos quais 11 correram, nove ganharam e quem possa duvidar de sua qualidade de produção, ela produziu a cinco stakes winners, entre os quais o chefe de raça Royal Charger - do qual descendem os formadores de tribo Halo, Roberto e Sir Ivor - e Tessa Gillian uma grande dois anos, ganhadora do Molecombe Stakes, e segunda colocada no Cheveley Park stakes, no One Thousand Guineas e no Coronation Stakes. Além de ser a sexta mãe de Golden Horn.
Se Sun Princess possui uma duplicação na matriarca Black Duches, sua filha Tessian Gillian o tinha em Canterbury Pilgrim e em Sanda, sendo que na última advindos de três vertentes.
Courtessa não correu, mas por trazer em seu quadro genético algo importante como uma duplicação em Scapa Flow e outra em Lady Josephine, a tataravô de Sun Princess, foi capaz de passar a corrente de transmissão por mais uma geração, mesmo a não colocada Lora.
O fundo do poço para muitos parecia ter chegado. E quando situações se tornam extremamente difíceis, soluções extremamente diretas devem ser tomadas. E o cerne da questão passou a ser diminuir o abismo que sempre separa uma teoria de sua prática. Em muitas situações batalhas são ganhas, mas a guerra perdida.
Lora veio a ser cruzada com Habitat e assim estabelecidas duas duplicações: a primeira em Sweet Lavander e a segunda, mais importante ainda, na fonte de toda aquela transmissão, Sun Princess. Esta é a forma de rejuvenescer uma família que tem o poder de transmissão, mas que precisa ser reativada, para vencer mais algumas gerações na produção de elementos diferenciados.
E assim se chegou a Fleche d'Or, uma ganhadora de apenas duas carreiras, mas capaz de produzir com Cape Cross a Golden Horn, aquele que deve ser considerado o cavalo do momento.
O que fica disto tudo que foi apresentado? Para mim a certeza que de duplicações em grandes éguas, dentro de uma família já consagrada através de décadas, é uma das importantes razões que mantém a chama acesa em uma corrente de transmissão. Outrossim, de tempos em tempos estas duplicações tem que ser verificadas nas fontes que geraram esta garantia de transmissão.
Quando se analisa o pedigree de Golden Horn, não é possível a uma pessoa não treinada, sentir a sutileza de transmissão por seis ou sete gerações, na manutenção de uma chama acesa. Não estamos falando de um ganhador de grupo. E sim o ganhador de grupo. E de uma transmissão conseguida artesanalmente, graças a uma série de duplicações e reforçada com a volta as origens da fonte que garantiu sua capacidade de transmissão.
Sei que a primeira vista parece complicado. Pode ser que até na segunda vista e na terceira. mas é verídica. Se você nunca ouvir falar de uma coisa, não quer dizer que esta coisa não exista e não esteja sendo utilizada por outrem. E aqueles que se recusem a entende-la, ou mesmo segui-la com o auxilio de quem conheça o mecanismo, agita qual a barata do romance de Paulo Francis que tonta com tantos golpes, que confunde tonteira com liberdade e termina sempre sob o chinelo alheio.
A segunda parte, com maiores conclusões, só amanha.