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segunda-feira, 6 de julho de 2015

PAPO DE BOTEQUIM: O CHINELO ALHEIO - SEGUNDA PARTE

Quando o assunto é importante, vale a pena prolonga-lo. A repetição trás a razão. E a razão é o melhor aditivo para o conhecimento. Se ninguém disse isto antes, assumo como meu.

Gostaria de frisar, que escrevi a primeira parte desta nota, no avião vindo de volta do Rio de Janeiro. Agora o completo já em casa, depois de refletir sobre o assunto. Vocês entenderão no decorrer deste, do porque desta sequência. 

Sun Princess está ativa e é hoje responsável pelo mais importante cavalo em atividade no planeta. Isto não é uma opinião. Creio ser um fato. Assim ter parte de seu acervo é uma baita chance de se conseguir aquilo que se almeja. Mas ter é uma coisa. Conservar, outra bem diferente...

Afinal, Golden Horn, com sua maiúscula vitória sábado em Sandown, apenas confirmou do que dele era esperado. Confesso que não o vi surgir. Comi mosca. Mas ele está ai e é isto que me parece importante. Como importante foi para mim aquilatar desde cedo a importância de Mumtaz Mahal. E isto igualmente não foi por acaso. Para o senhor Atualpa Soares, depois de Canterbury Pilgrim, Mumtaz Mahal foi a mais importante reprodutora do universo. Amante dos tordilhos e principalmente por tudo que viesse via The Tetrarch, o senhor Atualpa me fez ver que existem fontes de transmissão de classicismo, e quem com elas trabalhar, aumentará suas chances de sucesso.

Um pequeno parênteses, pontos de força e fontes, são quase que a mesma coisa. Diferem apenas de forma pontual, principalmente em termos de fêmeas. Fecho parênteses.

Pois saibam vocês que quatro descendentes de Sun Princess, - uma desta fontes derivadas da fonte maior sua avó Mumtaz Mahal - aportaram em terras brasileiras, sendo a primeira de todas Thalassa,  uma britânica filha de Fairway, explorada que foi, já com idade, pela família Seabra. Estamos falando do inicio dos anos 50.

A sequer colocada Thalassa no Brasil produziu a Thessalia (Orsenigo), terceira colocada no Grande Prêmio Mariano Procópio, ainda uma prova não graduada, já que veio a ser disputada antes de 1974, quando então as provas de grupo foram implantadas de forma definitiva. E a coisa parece que ficou por ai.

O segundo passo dado neste mesmo sentido, foi quando da importação da britânica Rhetoric, uma filha de Counsel, trazida pelo já desaparecido haras Palmital. Infelizmente esta imbreed na razão 4x4 no invicto Hurry on, deixou no Brasil a apenas três produtos, todas fêmeas: a ganhadora Mitsu (St. Alphage) que veio na barriga, a ganhadora do Grande Prêmio Francisco Vilela de Paula Machado (Gr.1) que foi ainda segunda no Diana (Gr.1) e quarta no Cruzeiro do Sul (Gr.1), Norne (Cigal) e finalmente Oeirana (Giant) ganhadora de listed.

Quiz o destino que Oeirana tivesse mais sucesso no breeding shed que Norne. Dela descendem vários elementos ganhadores de listed, mais uma especial atenção deve ser dada a ganhadora do Major Suckow (Gr.1), Super Duda (Notation), que por sua vez levada a reprodução, veio a produzir ao ganhador desta mesma prova, Desejado Put (Put it Back).

A terceira incursão nesta família foi feita pelo também desaparecido haras Sideral. Tratou-se da norte-americana Mannikin, uma filha do também norte-americano Bold Lad. Imbreed em Mumtaz Begun, no Brasil produziu ao ganhador de listed, Don Nova, pelo nada conveniente Malecite. A irmã materna de Don Nova, Jacadoce (Vacilante) gerou ao segundo colocado no Grande Premio Presidente Emilio Garrastazu Medici, The Blue (Odysseus). E nada mais se pode dizer, deste segmento.

A quarta e acredito eu que a ultima entrada desta família em nosso seio, foi a britânica Crown Case, por Ballymoss, trazida pelo igualmente já desaparecido haras Guayçara.  Ela é responsável por Offenhauser  (Earldom II), segundo colocado no Grande Prêmio Salgado Filho (Gr.3) e Peloponnese, esta mãe dos colocados em provas de grupo, Connetable (Sail Thorough) e El Torbelino (Baligh). Pouco a acrescentar.

Eu diria que muito pouco pelo peso que esta família tem hoje no turfe mundial. Pisamos na jaca!

Logo, a pergunta que não pode e muito menos deve calar, é porque em nenhuma destas quatro incursões, houve um destaque maior reprodutivo em nosso seio? E eu diria que ao contrário, do que vimos acontecer com o segmento que veio a gerar Golden Horn, no Brasil, em momento algum, estes segmentos vieram a ser explorados como o foram outros de mesma origem, na Europa: com as duplicações em matriarcas e principalmente, em elementos da fonte que a tudo gerou em termos de transmissão. O que isto sugere? Que não basta apenas se trazer o segmento consagrado. Temos que mante-lo ativo e isto com mais frequência acontece, quando reativamos o cerne deste poder de transmissão por intermédio de duplicações de matriarcas.


A maior lição que alguém pode receber, e quando este alguém capta um erro cometido, e descobre por que o mesmo veio a ser cometido. No turfe, as coisas não acontecem por acaso, e mesmo no erro, existe uma justificativa. Muitas vezes ativada pela simples omissão. Os quatro veios de Sun Princess que aqui aportaram, vieram a ser explorados por proeminentes criadores, e em nenhum dos casos, houve uma preocupação de manter-lo naquilo que me parece a essência. O fundamento da sobrevivência. A duplicação dos pontos de força e com mais significância nas fontes de transmissão.

Diria que nosso desperdício não se ateve apenas a alguns reprodutores que nenhum continuador de sua linha conseguimos estabilizar. Nosso desperdício foi ainda maior, já que não soubemos manter certas linhas maternas, linhas estas que funcionaram e ainda funcionam na maior alta classe de classicismo do turfe considerado de primeiro mundo. Poderíamos ter chegado lá, porém, não soubemos como fazê-lo. Não seria hora de dar o braço a torcer e tentar outras veredas? 


OU NOS MANTEREMOS 
QUE NEM A BARATA TONTA 
CRIADA PELA IMAGINAÇÃO DE PAULO FRANCIS, 
MAS QUE INEVITAVELMENTE 
VIRÁ A SER MORTA PELO CHINELO ALHEIO?