NOTHING TOMORROW
Não sei, mas acredito que exista esta possibilidade.
Quando foi anunciada a vinda deste elemento para o Brasil, adverti que se tratava de um muito bom cavalo de corrida, mas destituído de velocidade e que fisicamente não me parecia o que necessitavamos. Muita gente há de se perguntar, como um cavalo pode vir a ser considerado muito bom, se não tem velocidade? E eu respondo, que a história do turfe está cheia deles. Cavalos que não mudam de marcha, mas cujo pace médio por ser alto, possibilitam-os a chegar ao final com sucesso, se houver fracassos à sua volta. Resumindo, são cavalos que necessitam do fracasso alheio, para enganar que estão tendo sucesso.
Antigamente eles até funcionavam reprodutivamente no flat, pois a grande maioria o era, e assim entravamos naquele celebre dilema, do alguém tem que ganhar. Hoje não mais. Cavalo destituído de uma quinta marcha, tende a não ser levado a sério. Os dois últimos brilhantes cavalos com estas características do turfe britânico, que me lembre, foram Ardross e Yeats. Cavalos bem superiores em fisico e qualidades na pista que Soldier of Fortune. Bem amparados no breeding-shed, não consegiram se manter na industria do flat e seguiram para a de steeplechase.
A independencia de julgamento não parece ser o forte de nossa industria. Muitas vezes ela se torna entorpecida e confundida por nomes fortes como Galileo, que acabam por limar a legitimidade de um raciocínio lógico. E isto, ainda por cima, acaba por criar desvios ideológicos. Eu normalmente não mais os destrincho. Identifico-os e os coloco na prateleira. Cansei-me de lutar com estes fantasmas corporificados em nosso ambiente. No turfe brasileiro, como na politica nacional, provar o óbvio, me parece tarefa insana. Aqui o faço pela pergunta justa de um leitor, que igualmente se preocupa com o desenvolvimento de nossa industria.
Esta intuição de um olfato seguro é um inelutável avanço na capacidade de se implantar um sistema de idéias e crenças. Mas há de se levar em consideração que no Brasil, o nivelamento de reprodutores tem um parâmetro bastante inferior, do que o dos principais centros do hemisfério norte e até de alguns de nosso próprio hemisfério. O tempo nos tornou escravos de alguns "distribuidores" internacionais. Vivemos da consulta de suas listas. Aquelas mesmas listas que passam por mãos indianas, sul-africanas, turcas e de outros centros menores.
Minha experiência me diz, que no Brasil, cavalos com este perfil, podem colar. Por algum tempo, principalmente, quando não existam outros reprodutores de convincênte dominância. Pois querendo ou não, haras aqui, pelo nível de investimento, criação e comercialização, ainda fazem a diferença. Eu tenho um pé atrás com este soldado. O tempo dirá. Pois, mesmo aqueles incapacitados de dar ao pão aos que escutam, sabem dar sentido e valor a fome dos que padecem.