terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

PAPO DE BOTEQUIM: O BELO ANTÔNIO

Sou um cara simples de classe média, nascido e criado na zona sul carioca. Gosto mesmo é de feijão - o preto - com arroz, queijo - preferencialmente o catupiry - com goiabada, nunca mudei de time de futebol, ou de escola de samba e sou casado com a mesma mulher a 41 anos. Moro em um quarto e sala, tenho carro japonês que da pouca oficina, gosto de filmes que entenda, preferencialmente com inicio, meio e fim e leio crônicas de cronistas que vão direto ao ponto. Não fumo, não bebo e não sou dado a jogatina desenfreada. Outrossim, também dou as minhas escorregadas, jogo na loteria, como muito doce e fui atraído profissionalmente para algo que tende a se transformar num complicador. 

Logo eu, que aprendi com vó Adelina a teoricamente fazer de tudo para não complicar a minha existência. E não é que me apaixonei por uma atividade complexa e que o simples fato de tentar explicar algo, muitas vezes se transforma numa tremenda forma de complicar as coisas.

Você dá uma opinião, e ela é imediatamente vista por leitores de maneiras distintas. Isto em relação aos que concordam, pois, sempre haverão outros que discordarão. Caros senhores, vamos deixar uma coisa bastante clara, o turfe e principalmente a criação de cavalos de corrida, não é uma ciência exata, onde do bom com o bom, sempre haverá de nascer o melhor. Não é como na vida real de que japonês com japonês, gera um novo japonês com semelhantes características íisicas. Dificilmente, do cruzamento acima proposto, teremos a oportunidade de ver nascer um negro ou um louro de olhos azuis.

Todavia na criação de cavalos de corrida, você cruza dois elementos de grande porte e as vezes nasce um de pequena estatura e imposição física. Imaginem quando se trata de atributos locomotores e temperamento. O pai era conhecido por sua grande vontade em vencer, o filho tem medo até da sombra. A mãe demonstrava tremenda aceleração final e o filho não passa de um galopador. Pois, para tudo há de se procurar uma resposta. O atavismo é uma delas. A fatalidade outra.

Dois com dois na criação de cavalos de corrida nem sempre dá quatro. Pode dar de vez em quando oito, contudo em muitos casos,  não passará de zero. Este é o risco. Um risco que todo criador tem que correr e o proprietário apostar. 

Não tenho todas as respostas. Sei que para muitos posso até parecer que tenho mais que a grande maioria. Agradeço e não mereço. Estou no jogo como todos vocês, sujeito as chuvas e trovoadas. Por isto me empenho em seguir certas regras que aprendi, tanto em fisico como em pedigree, que acredito lhe darão maiores chances de sucesso.

Acredito em equilíbrio em um físico, onde as forças são distribuídas igualmente e o centro de gravidade não atrapalha a elasticidade do galão. Só que o equilíbrio de um First American é completamente distinto de um Put it Back, assim como os de Clackson o eram dos de Ghadeer. E todos não possuíram a capacidade de transmitir classe? Certo que uns sim, outros não. Apenas que não acredito que seja uma questão de sorte.

Quando era guri assisti um filme com Marcelo Mastroianni, chamado o Belo Antônio. Uma cara lindo, mas que a principio não funcionava sexualmente da forma que era esperado. E olha que não conseguir funcionar com a Claudia Cardinale, é dose? Pois é, além das dificuldades de achar um elemento que você considere fisicamente apto, existem os belos Antônios, que tem o desenho exato, a mobilidade aparente, a expressão diferenciada, mas que em pista não demonstram vontade alguma de competir.

Recentemente me deparei com um. Coloquei minhas fichas nele e descobri mesmo antes de estrear que se tratava de um belo Antònio. Tinha pedigree, fisico, expressão era criado num dos mais importantes haras do Brasil, descendia de uma das linhas maternas que mais amo e até nome de craque tinha: Piggott. Pois é, não levantava as patas!

Por isto, temos que ater ao atavismo, que muita vezes explica as coisas, quando não estamos a frente de um Ghadeer, um Clackson ou um Wild Event. A dominância dos citados, nos impele a acreditar que eles tinham a capacidade de resolver por si só, a grande maioria dos problemas. Não é bem assim, mas longe de ser uma blasfêmia. Gosto demais dos dominantes, mas tenho consciência que eles não são uma maioria. Eles na verdade são a exceção. Portanto se você acredita num físico atlético, numa expressão nobre, num andar solto, no equilíbrio de linhas e na posicionamento correto de um centro de gravidade, garanto a vocês que seu edifício tem menores chances de cair. E se igualmente depositar sua fé em linhas maternas, ou estruturas genéticas, em nicks ou mesmo em duplicações, você não está de maneira alguma sonhando. Você sim, está tentando dar menor chance ao azar.

Os belos Antônios estão soltos por ai. Não se atemorizem, pois, se você seguir os seus instintos, e as regras básicas citadas anteriormente, eles serão um em cinco e se você conseguir se manter nesta proporção, estará no lucro.