PAPO DE BOTEQUIM: HABEMOS LIDER

Foi com imenso prazer e com grande felicidade que vi a vitória de Jackson Pollock assumindo assim a liderança dos potros na Gávea. Porque? Por dois motivos. Um pessoal e outro esportivo. O primeiro, o pessoal, se dá no momento em que o pintor, homenageado pela família Burlamaqui, talvez seja para mim, a mais importante figura norte-americana do Expressionismo abstrato. Nada entendo de pintura. Sou apenas um admirador. O descobri no final do século passado em uma retrospectiva de seu trabalho no MoMa de New York, ao qual compareci, confesso que empurrado por minha esposa. 

O segundo motivo, foi ele ser uma criação do Santa Rita da Serra, um haras por qual tenho grande respeito, e justamente filho de uma égua que selecionei ainda desmamada para eles, em Keeneland.

Notting Tomorow, era uma filha do agora reconhecidamente execrável Aragorn, na melhor égua - em minha opinião - que o Santa Rita criou,  Notting Hill, e naquela que é para mim, indiscutivelmente sua mais importante família, a de Light Lida, uma Alleged filha de Princess Lida, esta por Nijinsky.  Imaginem poder importar uma filha de um duplo ganhador do Arco, numa clássica filha do último tríplice coroado britânico. Tempos que parecem não sorrir mais em nossa horta...

Abro um parênteses.Um vez visitando o Idelfonso no Vale da Boa Esperança, vi passar uma potranca galopando que me fez cair o queixo. Quase a perdi na lente de minha câmera. Ela passou na mesma velocidade que Much Better fazia, na década anterior. Perguntei ao Idelfonso quem era, e ele me disse tratar-se de Notting Hill. Quando desci a serra telefonei para o Afonso e lhe relatei o que vi e comentei que ele tinha algo de muito especial. E ele respondeu, Deus o ouça! E ele ouviu... Fecho parênteses.

Naquele Linneu de Paula Machado, que ela perdeu a duras penas para Hard Buck, selou em minha cabeça, que ali estavam dois animais de nível internacional. Adquiri, metade de Hard Buck, para interesses internacionais e quando vim com a proposta prontinha para levar Notting Hill, o negócio já estava fechado. infelizmente para as conexões erradas. Se a menor aclimatação, ela foi imediatamente levada a pista para disputar um Grupo 1. Correu uma barbaridade, mas ali ficaram todas as reservas que deveria ter para uma campanha em solo norte-americano.

O Afonso me alertou, quando ela for a leilão, me avise. Anos depois avisei, que ela iria. Nos preparamos, mas fomos batidos pelo vil metal alheio. De consolação levamos uma sua potranca. Pois bem, Aragorn é hoje um dos maiores palavrões que você pode insultar a alguém em Lexington, Kentucky. Assim sendo a qualidade que Notting Tomorrow apresentou em pista, vem de sua mãe. Só dela e desta linha materna sensacional, que não cessa de transmitir classe. Uma transmissão linear via linha materna.

Notting Tomorrow, não ganhou uma prova de graduação máxima, por imperícias de um jockey. Aqui não vai a opinião de um torcedor, mas sim de um observador. Agora notem o que esta linha materna, iniciada no Brasil por Light Lida, causou num espaço exíguo de tempo.

LIGHT LIDA
.....L'Escapade
..........La Ganhadora (3º G1)
...............Hierarquia (G3-URU)
...............January Jones (G1)
..........Leão de Prata (G3)
..........Leme Norte (G2)
..........Lignon's Hero (G3)
.....Notting Hill (G2)
..........Notting Tomorrow (G2)
...............Jackson Pollock (G1)
.....Porta Bandeira
..........Quick as Rey (G1)
.....Prince of Wales (G3)

A essência de uma criação, está em dois pontos crucias: o meio ambiente e em outro, intimamente ligada as linhas maternas desenvolvidas no haras. O Santa Rita da Serra, é a meu conceito um dos poucos haras que tem seu habitat natural. Seu ar próprio. Sua vida dentro de uma bolha cuja capacidade genética pode sorver seus melhores resultados.

Será Jackson Pollock o líder geral? Terá ele condições de bater a Dashing Court? Não tenho hoje esta certeza, embora pense que com o aumento da distância as chances tanto de um Courtier quanto de um Kodiak Kowboy se equivalham. Mas ai imediatamente penso que a força da família do representante carioca, tenda a falar mais forte. Principalmente se este embate se der na Gávea. Hoje ainda sou o paulista. Amanhã, quem sabe?

A perda recente de Hat Trick, reputo como uma das mais significativas de nosso criatório. Um duro golpe nos planos do haras. deixa três gerações. Menos mal. Todavia, algo me diz que deixará muitas saudades. Mas nada como um dia atrás do outro. A recompensa se fez presente semanas depois.