Tanto o futebol como o turfe, são atividades que sobrevivem das sensações que causam em seus aficionados. A intensidade destas sensações, teoricamente deveriam ser mais ríspidas no primeiro que no segundo e na verdade o são. Outrossim, sempre há de se haver momentos de exceção. No turfe, por exemplo, poderão ser contado nos dedos - da mão esquerda do Lula. No futebol é uma situação perene. Fla-Flu, Internacional e Grêmio, Palmeira e Corinthians. Seria um sentimento a ser incentivado? Duvido que sim, pois, o fato de em São Paulo haver torcida única e no Maracanã, bloqueio de setores para separar as torcidas, me parecem atitudes medievais.
Contaram-me, pois conheço o fato pelo que me foi dito, pois, sou velho mas não pertenço a pré-história, que no tempo de King Salmon-Swallow Tail e Formasterus-Fort Napoleon, haviam torcidas que defendiam ambos os lados. Os Peixoto de Castro e os Paula Machados. Os Castristas e os Machadistas. Salutar situação até que profissionais da área não tomem partido e usem do boicote, armas de tensão. Pois, não seria esta sua função.
Senti no ar, nesta visita, uma necessidade de se provar a superioridade de um em relação ao outro, em se tratando de Sangarius e Outstrip, quando na verdade deveríamos ter, ai sim uma torcida única, em favor dos dois, por terem sido elementos qualificados nas pistas europeias. Não cabe a mim, em se tratando de breeding-shed, opinar quem poderá ter mais chances de suceder. Penso que se os dois forem bem, melhor será para nossa atividade. Navegamos em mar raivoso, e não deveríamos cair nesta ladainha que é uma verdadeira perda de tempo e inevitavelmente afundará com o nosso barco.
Na seleção de indivíduos inéditos, - minha principal atribuição - tenho como base o indivíduo em si, não o que ele representa geneticamente, já que o viés da questão é a pista. O que virá após a mesma, trata-se de um outro problema.
Na tarde de segunda feira, passada no Bagé do Sul, sentado a uma cadeira, tendo um centro idílico à minha frente passei a examinar a um grupo de animais que vão a treinamento, em companhia do Gil Moss, do Fred do Araras e do dono do haras, quando nitidamente senti um misto de alegria e tristeza. Alegria por estar ali, como disse em um ambiente paradisíaco, vendo um grupo coeso de animais, que penso ser uma das gerações melhores até hoje criadas por aquele estabelecimento de cria, que tem seus dias contados para fechar as suas portas. A mesma sensação negativa que senti, décadas atrás, a participar de uma das últimas semanas de Hollywood Park. Desta feita a tristeza por ser meu último dia de inspeções em Bagé-Acegua, dois municípios que passaram a ser parte de minha existência profissional, além do fato de ver que tudo aquilo que enchiam meus olhos, será negado a partir deste ano, à criação de cavalos de corrida. Mais um espaço que se vai.
Não me interessa, que o individuo que me cativou seja filho de A, B ou C. Interessa-me ele, que está à naquele momento mágico a minha frente, enchendo cada espaço de minha imaginação. Nunca pensei em adquirir uma filha de Monarchos ou um neta de Isgala. Pensei sim ser uma hora decisiva, a de decidir por quem comprar de minha parte e um sentimento de final daquele que coloca seus últimos criados, a venda. A genética acabara por determinar o preço final. Simples assim.
Portanto a aqueles que tomam partido em relação a dois reprodutores que iniciaram juntos - em centros criacionais distintos - respondo que embora seja um fervoroso defensor do garanhão nacional , não tomarei partido entre Piper´s Paradise - cuja primeira geração chega as pistas em 2026 e Olympic Jhonsnow, cujos primeiros produtos me parecem extraordinários, sendo dois nacionais que deram inicio a suas jornadas no mesmo ano, ou mesmo a outros como London Moon e Bien Sureno, que são dois elementos fisicamente de exceção a meus olhos, ainda inéditos.
Rever Bal a Bali, amigos de longa data e uma Bagé sempre pujante com o Old Friends, Fronteira, Mondesir, Araras, Doce Vale, Bagé do Sul, Anderson, Di Cellius e o novo Legacy, renovada em seus hotéis e restaurantes, também é um fato que não pode e muito menos, deve ser ignorado, por todo aquele que ama a atividade e não vê nela um campo de guerra entre facções que confundem o turfe com o futebol.