
Ontem assisti a disputa dos 1,700m do Dubal Al Rashidya (G3) na pista de grama de Nad-el-Sheba. Primeiramente impressionei-me com o número de participantes sul-africanos. Eram quatro. E a seguir com a vitória de um deles, o sete anos (para nós ainda seis anos) Silver Mist (Western Winter-Palace Bride por Palace Music), que aparece na foto.
Porque me surpreendi? Boa pergunta.
Porque em Dubai, pedigree normalmente conta e este castrado tem a principio uma estrutura pouco condiz com o classicismo exigido para se vencer provas de grupo naquele meeting. Eu disse a principio. Calem-se detratores do óbvio!
Mas analisando-se seu pedigree veremos inicialmente que sua mãe, embora descenda da linha 6-e- que anda meio sonâmbula - possui o Rasmussen Factor em Flaming Page por seus filhos, o triplice coroado Nijinsky, pai de London Bells (pai de Bridesmaid, a mãe de Palace Bride) e ao mesmo tempo ela é igualmente avó do Dual Derby & King George VI and Queen Elizabeth stakes winner, The Minstrel, o pai de Palace Music.
Mas se isto só não bastasse, em seu cruzamento com o pouco recomendável Western Winter, sobreveio ao pedigree de Silver Mist um outro Rasmussen Factor em Victoriana, por seus filhos Victoria Regia, a mãe de Vice Regent (avô materno de Western Winter) e em Victoria Park, o avô materno de The Minstrel.
Cabe-se ressaltar que tanto Flaming Page, quanto Victoriana citadas acima foram Oaks winners no Canadá. Sendo que a primeira igualmente ganhou o Derby de seu pais, foi segunda no Kentucky Oaks e possui em seu pedigree um Rasmussen Factor em Plucky Liege, por seus filhos Bull Lea e Sir Gallahad III. Coisa bastante comum nos pedigrees elaborados por Edward P. Taylor, o maior criador já visto no vizinho do Norte.
Victoriana produziu seis stakes winners, sendo dois deles champions 3yo em seu país de origem: Northern Queen e Victoria Park. Flaming Page, que só deixou três filhos, todos ganhadores, é mãe de dois stakes winners.
O que se tira desta lição? Que olhando o pedigree de Silver Mist em um catálago, é muito provável que você virasse a página. Quando na verdade ele possuí Rasmussen Factors, talvez nas duas mais importantes reprodutoras do Canadá. Por isto me parece necessário exigir de si próprio, ou daquele que o assessora, um estudo completo de seis gerações do pedigree antes de ter o cometimento de lançar neste ou naquele lote em uma venda.
Esta pode ser uma das razões da África do Sul, mesmo tento pedigrees "a primeira vista" inferiores aos nossos e um turfe infinitamente menos competitivo, ter, pelo menos em Dubai, um muito mais significativo sucesso que nós brasileiros.
Outros dois pontos a se notar: Dois são os ganhadores de grupo até aqui no Carnival de Nad-el-Sheba, ambos descendentes da corrente materna de número 6. E dezesseis são as provas disputadas no continente asiático até o presente momento. Nove (56,25%) são os vencedores que trazem em seu pedigree o Rasmussen Factor. Isto me parece assaz interessante.
Com a palavra aqueles que nada sabem, mas investem para seus clientes.
Publicado em 30 de Janeiro de 2009