
A carreira que mais me alegra a assistir, entre as três que compõem a tríplice coroa norte-americana, é certamente o Preakness. Talvez por ser a mais descontraída de todas. Quem sabe por Baltimore parecer uma cidade sempre em festa. Ou, pelo simples fato de ser a que menos os profissionais gostam de vencer entre todas. Não sei a razão, mas me agrada. Assisto-a no peão do prado, onde diversas festas se realizam e fica fácil de se chegar ao encilhamento, feito na pista de grama em frente ao grandstand. Outro fato que me parece altamente simpático.
O Derby de Winning Colors deixou cicatrizes. As farpas desferidas entre Woody Stevens e D. Wayne Lukas foram pontiagudas e letais. Forty Niner, para muitos, entre eles eu, fora mal dirigido por Pat Day. Ele não ficou atrás nem deu encima da favorita. Ficou que nem mosca de padaria. Deveria ter ganho a carreira, pois, sua ação nos metros derradeiros foi decisiva. Mais 50, e com certeza ganharia. A imprensa apoiou a tese e Lukas estrilou com certa razão. Ele ganhara a razão. A corrida era de 2,000m e sua pupila foi a que mais rápido venceu a marca. A polêmica foi montada.
Na sexta feira, andando pelos barns, deparei com Woody Stevens sozinho a morder com os cantos da boca, um pedaço de feno. Parecia ter sua cabeça em outro planeta. Aproximei-me, me apresentei e propus uma entrevista ali mesmo. Ele sorriu e concordou.
Woodford Cefis Stephens era natural de Staton, estado de Kentucky. Iniciou como jóquei seu relacionamento com o turfe aos 16 anos de idade. Como ele mesmo disse, não lhe trouxe bons resultados a tentativa. Passou a treinador e no final dos anos 50 foi contratado por Harry Guggenheim para comandar o Cain Hoy stables. Isto lhe angariou, alguns champions e pelo menos três Oaks.
Manteve-se com seu patrono até 1969, quando estabilizou-se novamente como treinador independente. No final de sua carreira teria a seu crédito 11 Eclipse Award winners, um horse of the year (Conquistador Cielo) e mais de cem vitórias em provas de graduação máxima. Sempre sediado em Belmont e Saratoga e no inverno em Hialeah, Woody Stephens pode ser considerado com Charles Whittinghan um dos dois maiores treinadores do após guerra nos Estados Unidos. Eram amigos e assim permaneceram até o dias finais de Woody.
Entrevistei a ambos. Charles Whittingham era mais colorido e espirituoso. Woody Stephens, menos constratante, outrossim, muito observador e sagaz. senti que a entrevista que fiz com ele cresceu a medida que ele tomava confiança em mim, nas perguntas que lhe fazia. No final da mesma fiquei deveras feliz, ao ele agradecer a mesma e dizer que poucos eram aqueles que sabiam fazer as perguntas certas para o momento certo.
No frigir dos ovos, terminou sua carreira onde ganhou dois Kentucky Derbies, um Preakness, cinco seguidos Belmont, assim como o mesmo número de Kentucky Oaks. Nada a reclamar. Foi indultado ao hall of Fame em 1976. Em 1983 recebeu o Eclipse Award como o melhor treinador da temporada. Em 1998 morreu a apenas oito dias de completar seu octogésimo quinto aniversário, porém, rico em Miami Lakes, na Flórida, devido a seus eternos problemas com enfisemas em seu pulmão.

RG - Senhor Stevens, existem várias coisas que marcam a sua brilhante carreira como treinador, mas creio que para mim, um amante do turfe vindo de outro continente, existem dois fatos que realmente me chamam maior atenção. Seus cinco Belmonts seguidos, e o Kentucky derby deste ano. Por isto minha pergunta. O que o senhor espera para amanhã?
WS - Guerra.
RG – O senhor quer dizer uma luta particular entre Forty Niner e Winning Colors?
WS - Algo assim. Perdemos o Derby porque demos a ela (Winning Colors) uma extrema folga na ponta. Imaginem ter podido imprimir um trem de 23”, 46” 2/5 e 1’11’2/5 sem ser em momento algum atacada. Tinha quatro a cinco corpos à nossa frente e galopava. Pat (Day em Forty Niner) veio forte no final, assim como Eddie (Delahousse em Risen Star) mas a carreira já estava decidida a favor dela. Não podemos dar esta mesma vantagem amanhã (Preakness stakes). Acredito na stamina de meu cavalo e creio que ela irá prevalescer.
RG - Quanto o senhor diz nós, refere-se apenas a pat day, o senhor e Forty Niner ou também a Eddie Delahousse, Louis Russel e Risen Star?
WS - A todos se possível.
RG - E será bastante para conter a de Risen Star?
WS - Isto é outro problema. Tenho que matar um leão a cada minuto. Não dois ao mesmo tempo. E o leão maior, até que provém ao contrário, me parece a potranca (Winning Colors). Depois terei que me preocupar com o outro leão (Risen Star).
RG - Este receio maior seria por ela ser treinada por Wayne Lukas?
WS - Lukas é um excelente profissional. Qualquer coisa treinada por ele deve ser respeitada.
RG - Existe muita gente que acredita ser Risen Star o melhor elemento desta geração. O senhor concorda?
WS - Amanhã saberemos. Ele demonstrou ter classe. Vinha forte no final em Churchill (Downs). Evoluiu de suas vitórias em sua base (Fair Grounds). O vi galopar ontem. Estava lindo. Não tenho dúvidas que virá igualmente no final e que correrá mais juntos aos ponteiros. É um Secretariat, o que sugere que melhorá na distância. Em Pimlico a reta é muita pequena para você se dar ao luxo de esperar por ela para fazer seu cavalo correr. A corrida deverá ser decidida antes do final da curva. Mas agora Risen Star terá que se provar mais uma vez. Veremos o que poderá acontecer.

WS - Não necessáriamente. Não iremos brigar de forma suícida. Apenas deixaremos que a potranca sinta nossa presença desde o inicio. Isto normalmente afeta a cavalos que gostam de correr soltos na frente. Quanto aos parciais podem até ser os mesmos do Derby, mas o final asseguro-lhe que será distinto.
RG - Voltando a Risen Star, o senhor crê que ele possa estar mais perto desta feita?
WS – Não tenho dúvidas disto. Louis Russel é jovem nesta profissão, mas já provou ser inteligênte e conhecedor do assunto. Conhece o tamanho da reta de Pimlico e o perigo que é deixar a potranca (Winning Colors) galopar a frente. Ademais Secretariat corria entre os ponteiros. Não o vejo vindo de tão atrás como no Derby.
RG – Logo, Risen Star é o seu segundo leão?
WS – Não tenho dúvidas disto. E ele é grande para burro. Um pouco menos musculoso que seu pai, mas um gigante também.
RG – Existiria um terceiro leão nesta carreira?
WS – Gosto muito do cavalo do John (Veitch). É pequeno mas tem um pedigree voltado para a distância. Poderá ser o osso a se roer no Belmont stakes.
O cavalo que Woody Stephens se referia era Brian’s Time.
continua amanhã