PISTA DE GRAMA: A VERDADE DOS NÚMEROS
Muito tem sido dito e comentado a respeito da atual reforma da pista de grama da Gávea. Uns acreditam que ela não era tão necessária assim; outros imaginam que com algumas adaptações pontuais a pista poderia estar hoje funcionando; e há mesmo aqueles, embora poucos, que insistem em não ver nenhuma utilidade na atual reforma da raia.
Neste tipo de debate, como sempre, a virtude nunca está nos extremos. Ademais, é inteiramente inútil discutir o assunto sem ter os números à mão e, analisando-os, aprender com eles. Até para que não se repitam eventuais erros cometidos.
Então, vamos aos números de utilização da pista de grama da Gávea nos últimos 19 (dezenove) anos, ou seja, de 1990 a 2008, inclusive (até 13 de outubro, quando a pista foi fechada para reforma). É o que consta do quadro a seguir.
Da leitura do referido quadro, é possível perceber que:
A) A média de páreos corridos na grama, entre os anos de 1990 a 1999 (inclusive), era de 21,08% do total de páreos corridos no Hipódromo Brasileiro. A partir do ano de 2000, porém, e até outubro de 2008 (quando a pista foi fechada para reforma), esta média subiu para 31,56%, quase um terço do total dos páreos corridos no ano;
B) Em 2001, dos 2038 páreos corridos pelo Jockey Club Brasileiro naquele ano, nada menos que 805 tiveram a grama como palco (ou seja, 39,50% do total dos páreos). No ano seguinte, 2002, os percentuais se repetem (2166 páreos, 845 na grama, 39,01% do total).
C) Em 2007, apesar de algumas mudanças na chamada, visando à redução do uso da grama - que, àquela altura, já dava sinais evidentes de esgotamento -, ainda assim, nela foram disputados 660 páreos de um total de 2034 (isto é, 32,45% do total);
D) Em outubro de 2008, afinal, a pista não resistiu e teve que ser fechada para reforma geral e replantio.
Esses são os grandes números de utilização da grama da Gávea ao longo dos últimos anos.
Alguns fatos notórios ocorreram nesse período, como sejam:
1) Em 1995, 7(sete) novos postes de luz foram colocados para iluminar a raia grande de areia e, assim, permitir corridas noturnas na reta grande, além de um melhor televisionamento dos páreos. É evidente que a maior iluminação da areia aproveitou a grama. Um ano depois, em 1996, o Jockey Club Brasileiro procedeu à reforma total de sua pista de areia, diminuindo, em conseqüência, os páreos na grama (436 em 1996, 18,74% do total), tendo em vista a necessidade de movimentar máquinas e pessoal em suas proximidades durante boa parte do ano-hípico;
2) De qualquer forma, a utilização da grama nos 10 anos anteriores a 2000 - administrações Adayr Eiras de Araujo e José Carlos Fragoso Pires - foi expressivamente menor que no período que se seguiu.
Algumas conclusões imediatas decorrem do conhecimento desses números, como sejam:
I) Há um limite ideal de utilização da pista de grama da Gávea, acima do qual ela se degrada inexoravelmente. Este limite oscila ao redor de 21% (vinte e um por cento) dos páreos efetivamente corridos, percentual este, que é igual à média dos 10 (dez) anos anteriores a 2000, quando a grama era considerada em boas condições de uso;
II) Acima disso (que corresponde a 1/5 do total das corridas anuais), nada garante que a grama não vá se degradar novamente, com as conseqüências técnicas e econômicas daí decorrentes. Irrelevante, no caso, o tipo e a qualidade da manutenção a que ela venha a ser futuramente submetida. Grama não agüenta pisoteio excessivo acima de um determinado nível.
Isso nos remete à outra questão, que é da escolha dos números do penetrômetro, e a necessidade de descansar o piso durante certos períodos do ano.
Três são as conclusões, no caso:
(a) Os atuais índices do penetrômetro adotados pela Comissão de Corridas são maiores e, portanto, mais permissivos que aqueles utilizados na década de 1990, fazendo com que a pista seja utilizada nem sempre em condições ideais. É absolutamente fundamental que esses índices sejam rigorosos e rigorosamente respeitados, para que não aconteçam negativos casuísmos semanais;
(b) O bom senso indica que é absolutamente necessário programar alguma forma de descanso para o piso, dando tempo a que a grama se recupere. Sem nenhum tipo de descanso - a não ser aquele provido pela ajuizada e oportuna intervenção de São Pedro - correremos sempre o risco de voltar à situação anterior à reforma, quando não havia descanso algum;
(c) Finalmente, o JCB informa que terá gasto R$ 600.000,00 ao final dos trabalhos de reparo, correção do piso, e replantio da grama da Gávea. Esta não é uma quantia pequena. A volta da pista de grama à atividade, portanto, parece sugerir a adoção de novas regras e novos parâmetros de sua utilização.
Seria uma pena, se deixássemos passar a oportunidade de melhor regulamentar esse assunto, provendo - além de uma boa manutenção e descansos regulares para a pista - a fixação de um limite ideal de seu pisoteio.
José Carlos Fragoso Pires Júnior